terça-feira, 14 de agosto de 2012

Olimpíadas do Rio 2016 - O Primeiro Susto

Na "viagem" alucinógena de Cao Hamburguer e Daniela Thomas, uma zorra sem realismo nem simetria, tentava mostrar nossas Escolas de Samba, nossos Índios e nossos Caboclos de Lança. . Há alguns dias eu e Nadja vínhamos nos divertindo tentando imaginar como seria a abertura dos Jogos Olímpicos do Rio em 2016. A parte com a qual mais sorríamos era quando tentávamos selecionar os cantores que se apresentariam. Imaginávamos Zeca Pagodinho de chinelão e bermuda segurando um copo de cerveja; Ivete Sengalo com seu “suvaco suicida”, aos pinotes, montada num trio elétrico com centenas de abadás numa dança sensual exaustivamente ensaiada no carnaval daquele ano; ou o "rei" Roberto Carlos, com seu paletó azul e suas ombreiras que medem metro e meio de uma a outra. Daqui a quatro anos como estarão artistas do nosso primeiro time como Chico Buarque, Milton Nascimento, Edu Lobo? Ah! Temos Gilberto Gil, lembrávamos aliviados. . Imaginamos a festa começando com as imensas caravelas Santa Maria, Pinta e Ninã deslizando sobre trilhos camuflados, enquanto nossos índios do Xingu, quase nus, assustavam-se com aquele trambolho do qual desciam seres fedorentos, ávidos por sexo, e capazes de doar espelhos em troca de uma rapidinha atrás da moita mais próxima. . Em seguida, com as magníficas caravelas ainda estacionadas, nossos índios ensaiariam uma dança tradicional com aquele canto de poucas notas musicais mas de uma beleza sem par. . Então as caravelas retornariam levando ouro e espécimes vivos de índios, flora e fauna da nova terra, enquanto os nativos agora eram obrigados ao trabalho escravo, e a fazer sexo como nunca haviam imaginado ser possível. . Outras caravelas, sem o brilho das primeiras, agora chegavam carregadas de negros africanos - príncipes e súditos - que, sob o açoite de chicotes no tronco, dividiam com os indígenas os serviços mais pesados, enquanto as suas mulheres púberes eram submetidas juntamente com as indígenas da mesma idade aos abusos nas moitas. . Tudo isso seria apresentado em coreografia exuberante, sem sexo explícito, mas com cenas fortes sobre o trabalho escravo e os abusos próprios dos colonizadores. . Em seguida, a fuga dos indígenas para o interior do país e a formação dos quilombos seriam mostradas sob o som atroador de centenas de negrões baianos da Timbalada, com suas pinturas nos braços, tronco e rosto, enquanto batiam as imensas alfaias sacudidas acima das suas cabeças. Nos quilombos, a luta, a capoeira e os tambores do candoblé, antecipando um desfile majestoso de imensos orixás artisticamente estilizados. . Em imensas alegorias viriam as comidas que os índios e os negros agregaram às dos europeus e enriqueceram nossa cozinha. . Do Norte, os Bois de Parintins, do Sul as tradições gaúchas, do Nordeste o Maracatu Rural com seus Caboclos de Lança super coloridos, carregando às costas a canga com seus imensos chocalhos enquanto empunhavam suas lanças e mostravam um misto de dança e luta. Ainda teria espaço para o frevo pernambucano e os imensos bonecos de Olinda. . O samba carioca e paulista com passistas maravilhosos e Porta Bandeiras e Mestres Sala teria seu papel de destaque, mas sem expor nossas mulheres à nudez que tanto vemos no carnaval, para tentar melhorar a imagem delas no exterior. . O nosso Rei Pelé chegaria com a Tocha Olímpica em uma réplica do 14 BIS que, após sobrevoar todo o estádio do Maracanã, acenderia a grande tocha que permanecerá acesa durante todos os jogos do Rio. . Ainda estávamos – como ainda estamos – pensando como seria essa grande tocha. Depois da que vimos em Londres, não pode ser qualquer coisa pensada às pressas. . Só nos restava aguardar os oito minutos que o Brasil teria para convidar o mundo para o Rio em 2016, e aí veio o primeiro susto, que esperamos seja o único dessa Olimpíada que já começou. . Com criação de Cao Hamburguer e Daniela Thomas, o que vimos foi um imbróglio da pior qualidade, salvando-se apenas a entrada de Marisa Monte cantando (ou dublando) a Bachiana Brasileira número 5, como se fora Iemanjá. . O gari Renato Sorriso, só conhecido no Brasil e especificamente no Sambódromo do Rio, chegou com um imenso vassourão, deixando o mundo sem entender o que ele pretendia varrer: se a corrupção do Brasil ou os porões do Palácio de Buckingham. Um nome excelente, sem dúvidas, para a abertura dos jogos no Rio, desde que corretamente inserido. De qualquer forma, nos deixou esperançosos de que ainda poderíamos ter um show. . Em seguida um grupo de percussão – só identificados como tal quando o desfile já havia terminado – com imensos tamborins desajeitadamente erguidos sobre suas cabeças, não repercutia nada. Um desfile de dezenas de pessoas com folhas de 2 metros e meio sobre as cabeças tentaram formar figuras que nada representavam, por mais que nos esforçássemos para decifrá-las, com a boa vontade de quem queria que já comessássemos dando um verdadeiro show. . Essas folhas, em seguida, foram deixadas desordenadamente sobre a rampa, e só ficamos sabendo que queriam formar os desenhos da calçada de Copacabana porque o locutor da TV Record chamou a atenção dos telespectadores. . Pretensos Caboclos de Lança, com a pele pintada de dourado como todos os seus adornos, mas sem as cangas dos chocalhos nem suas performances características, subiram a rampa em desembestada correria como se espantalhos fossem. . Os nossos majestosos indígenas com seu vigor, sua dança enigmática e seu colorido exuberante, apareceram desprovidos de todas essas belezas, com cocar e colar em neon (ou led), em monocromático verde limão, só sendo identificados como índios do Brasil também após explicação do apresentador. . Os excelentes Seu Jorge e o rap BNegão foram lançados às feras, seguidos da modelo Alessandra Ambrosio, que representou as mulheres brasileiras, como se estas fossem um produto de exportação. . O Rei Pelé subiu apenas metade da rampa, disfarçado sobre um chapéu horroroso e um paletó que parecia ter sido pedido emprestado a algum brasileiro residente em Londres sem o devido conhecimento das autoridades locais, para em seguida desfazer-se deles e mostrar a camisa 10 da nossa seleção de futebol. . Algumas idéias fracas, apresentadas de forma bizarra e burra. . Uma vergonha, sob todos os aspectos. . Se Cao Hamburguer e Daniela Thomas só tínham oito minutos para a apresentação, não deveriam tê-los utilizados para fazer propaganda do que poderiam mostrar na abertura de 2016, e garantirem aquele contrato. Quiseram mostrar muito em pouco tempo, e o fizeram de forma atabalhoada, sem cor, sem ritmo, sem brilho, sem nada. . Um vexame. . Que escolham um criativo diretor, com raízes fincadas em território nacional, e não quem não sabe se estaciona no Rio, São Paulo ou Nova Yorque; que este se cerque de outros grandes artistas regionais de comprovada criatividade e conhecimento profundo da cultura do nosso povo. O resto ficará por conta dos que fazem as alegorias do carnaval carioca, e muuuuiiiito ensaio... muuuuiiiiiito ensaio. . Ficamos assustados. .

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