sexta-feira, 10 de julho de 2009

Arthur Bispo do Rosário



















De Cor Azul...


"No início, eu arrancava a linha da minha roupa para fazer meu bordado. A cada dia meus trabalhos ficavam mais bonitos e a cada dia minhas roupas ficavam menores. Por isso, costuro principalmente em azul. Azul não é a cor de minha expressão. Azul é a cor das calças e da roupa de cama dadas aos pacientes.internos.malucos.prisioneiros na Colônia Juliano Moreira, e era a única linha que eu tinha antes que eles começassem a chamar a minha organização do mundo de "arte" e as pessoas começassem a me trazer sucata e outros itens de utilidade.Às vezes eu costurava tanto, as idéias vindo tão rápido, que no fim sobrava apenas uma manga de camisa. Eu a usava lá fora, para perambular com os outros pacientes nus, que arrancavam as roupas porque pensavam que fossem camisas-de-força.abelhas.zumbindo.fogo. Levava horas até o pessoal vir me apanhar. Levaram anos para perceber que eu andava nu somente por necessidade do meu trabalho, que se eu tivesse materiais amplos e apropriados, de boa vontade conservaria minhas roupas de cama.Aqueles foram os dias mais lindos, escondido atrás das plantas abandonadas do jardim, deitado com pedrinhas colocadas ao redor da minha cabeça como auréola, no pátio não varrido com o calor do sol do Rio no meu pênis e na minha barriga".
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"Os doentes mentais são como beija-flores: nunca pousam, ficam a dois metros do chão.
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De repente, a cortina preta que revestia o teto do mundo se rasgou sobre ele e deu passagem a sete anjos de aura azulada e brilhosa. Era o chamado para reconstrução do mundo".
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Arthur Bispo do Rosário
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Algumas palavras sobre o sensível Arthur,


"Arthur Bispo do Rosário, um artista de excelência azul, passou cinquenta anos de sua vida numa instituição psiquiátrica, longa existência que vivida a dois metros do chão como os beija-flores(1) se fez e refez em sua grande missão de recriar o mundo. Lúcido e louco, dócil e violento, humilde e visionário; mas sempre, e sobretudo, um homem determinado e consciente de si, ainda que para muitos essa consciência pareça indissociável de uma personalidade desajustada. Arthur Bispo seguiu sua trajetória empenhado na reconstrução do mundo(2), construindo objetos em geral em madeira, em miniaturas: carrinhos, barcos, caixa de música, roda da fortuna. O processo criativo emergia e brotava de suas mãos em forma de trabalhos que abriram outras portas para a discussão da Arte Contemporânea. Com produtos retirados do consumo dos homens, as obras de Arthur Bispo, têm características da Pop Art, cujas imagens trabalhadas já se encontravam amplamente difundidas na sociedade de consumo, tudo o que nossa imaginação possa captar e que pode ser encontrado por aí, pelas ruas, praças e esquinas, faz parte da obra de Bispo.
O processo criativo de Bispo tem na esquizofrenia, toda sua potência que faz de sua obra intensa, capaz de ser apresentada a qualquer público, e para quem realmente foi criada: Deus Todo Poderoso a quem Bispo se apresentaria no dia do Juízo Final vestindo o Manto da Apresentação que começara a costurar a partir de um cobertor vermelho e com fios do uniforme azul da Colônia Juliano Moreira que Bispo desfiava para tecer. A intensidade da experiência é a única coisa na qual o artista está interessado. A cultura da contestação implica na morte do pensamento seqüencial e linear, numa erosão da capacidade das pessoas em planejar e gerir as suas próprias vidas........, o mundo de Bispo do Rosário é fortemente organizado e rigorosamente hierarquizado. Nele, todas as peças se relacionam, como num jogo de xadrez"....


Fonte:Oficina de Produção Artística - OPA!





quinta-feira, 9 de julho de 2009

Síndrome da Alienação Parental


A Síndrome dos Órfãos de Pais Vivos


"Alienação Parental é a criação de uma relação de carácter exclusivo entre a criança e um dos progenitores, com o objectivo de banir o outro.
Uma criança totalmente alienada, neste contexto, é a criança que não quer ter qualquer tipo de contacto com um dos progenitores e que expressa apenas sentimentos negativos sobre esse pai e somente positivos sobre o outro. Esta criança perdeu completamente o alcance da totalidade dos sentimentos que uma criança normal nutre por ambos os progenitores.
Ao progenitor que age no sentido de criar esta relação exclusivista e fusional com a criança chamamos "progenitor alienante". Ao progenitor excluído chamamos "progenitor alienado".


EFEITOS DEVASTADORES

Os efeitos nas crianças vítimas da síndrome da alienação parental são devastadores.
No imediato, a criança sente os efeitos de uma enorme perda. A sua magnitude só é comparável á morte de um dos pais, o avô e a avó, e os familiares próximos e amigos, todos de uma só vez.
A médio prazo, a contínua ausência do progenitor alienado (e avós, familiares e amigos) traduzir-se-á naquele conhecido sentimento de que "faltou sempre qualquer coisa". O que se perdeu irremediavelmente foi a interacção no dia-a-dia, a aprendizagem, o apoio e o amor que naturalmente flui dos pais e avós.
A investigação reporta que estas crianças agem duma forma difusamente transtornada, evidenciando ansiedade, tensão, depressão e doença psicossomática. São mais impacientes e nervosas e menos capazes de conceptualizar situações complexas – com as quais terão necessariamente que se confrontar na vida adulta.
Infelizmente, a alienação de um dos progenitores pode tornar-se tão forte que resulta em comportamentos de grande inadaptação.
Este parece ser o preço emocional a pagar pela criança vítima da síndrome de alienação parental.
Os investigadores constatam que o progenitor alienante, habitualmente a mãe, utiliza tanto meios explícitos como contidos, tais como a lavagem cerebral ou a indução, mentir acerca do pai, e estabelecendo um subtil pacto de abandono se a criança não se aliar a ela.


A Síndrome da Alienação Parental, definida pela primeira vez em 1985 pelo Prof. Dr. Richard A.Gardner, professor clínico de Psiquiatria Infantil da Universidade da Columbia (EUA), resulta das tentativas da parte de um dos progenitores (comummente o progenitor guardião e quase sempre a mãe) em se comportar por forma a alienar a criança ou as crianças do outro progenitor.
Incluí-se uma série de técnicas conscientes de programação da criança, bem como processos tanto subconscientes como inconscientes utilizadas pelo progenitor alienante, combinados com a contribuição da criança em denegrir o progenitor odiado".

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Louca Lucidez

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Venho por meio deste espaço abordar um tema delicado, porém extremamente necessário. Esse pequeno texto elaborado é fruto de uma pesquisa "superficial" sobre o tratamento e preconceito existente, e as conclusões que constatei, vivi e experimentei, nas visitas a meu pai em nos Hospitais Psiquiátricos. De forma clara e objetivo deixo minhas observações sobre o assunto proposto.
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A amputação mais dolorosa nos Hospitais Psiquiátricos é a dignidade pessoal: O internado se sente desqualificado e coisificado. Qualquer mensagem emitida é reinterpretada pelo pessoal do Hospital como "coisa de louco", o que deteriora o sentimento de autonomia e auto-respeito do paciente.
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Isto faz com que a forma adaptativa mais comum seja a de "aceitar" a proposta do meio manicomial e começar a comportar-se "como um louco", ou seja, a cumprir as expectativas da Instituição.
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Levando-se em conta que, nem todas as condutas loucas são permitidas, mas apenas as de "louco adaptado", obediente e respeitoso para com os enfermeiros, diagnósticos e regulamentos.
A monotonia e o sentimento de solidão e abandono levam uma vida sem projeto de futuro, pois não é dono de seu destino quem não é dono de si.
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Não quero dizer com isso que a loucura não existe, sim existe e as vezes supera o imaginável. O que ocorre logo depois do surto psicótico é uma espécie de readaptação ao mundo convencional. Apenas, já é tarde para sair tão rapidamente como se entrou, porque a pessoa teve "cortado os seus víveres" pelos de fora, perdeu seu trabalho- o que na maioria das vezes é definitivo, foi eliminada mentalmente de seu grupo familiar e perdeu contato com os amigos, além de possuir a marca-estigma do diagnóstico, com um grande carimbo nas costas: Louco.