sexta-feira, 1 de junho de 2007

O Último Discurso


"Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar - se possível - judeus, o gentio ... negros ... brancos.


Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo - não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar ou desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover todas as nossas necessidades.


O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma do homem ... levantou no mundo as muralhas do ódio ... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, emperdenidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas duas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.


A aviação e o rádio aproximaram-se muito mais. A próxima natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem ... um apelo à fraternidade universal ... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhões de pessoas pelo mundo afora ... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas ... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: "Não desespereis!" A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia ... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem os homens, a liberdade nunca perecerá.


Soldados! Não vos entregueis a esses brutais ... que vos desprezam ... que vos escravizam ... que arregimentam as vossas vidas ... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como um gado humano e que vos utilizam como carne para canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar ... os que não se fazem amar e os inumanos.


Soldados! Não batalheis pela escravidão! lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas é escrito que o Reino de Deus está dentro do homem - não de um só homem ou um grupo de homens, mas dos homens todos! Estás em vós! Vós, o povo, tendes o poder - o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela ... de fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto - em nome da democracia - usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo ... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.


É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progreso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos.


Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontres, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo - um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergues os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos"!


Charles Chaplin
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quinta-feira, 31 de maio de 2007

Desabafo


Meu Pai, Sávio Rolim...



Ao longo deste ano, na verdade, desde o lançamento do documentário "O Menino e Bagaceira" em outubro de 2004- até esta data ( 21 de novembro de 2005), nada de concreto foi feito no sentido da recuperação do meu pai, o ator Sávio Rolim.
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Apenas um tratamento ridículo na Colônia Penal Juliano Moreira, no qual o acompanhava e onde ficávamos horas a fio à espera dos médicos, numa angústia e aflição que me consumia cada vez mais...
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Em meio àquela tortura, vivendo situações às quais não estava adaptada, passava mal na maioria das vezes, e saía correndo para o trabalho, sem sequer almoçar.
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Quando colocava a cabeça no travesseiro ficada a me questionar do porque daquilo tudo. Não sabia o que sentir... Raiva, revolta, tristeza, angústia...
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Por várias ocasiões me desesperei tentando achar uma saída. Quantas e quantas vezes fui visitá-lo, e passávamos horas a conversar na escadaria do local onde mora.
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Numa dessas não agüentei. Não queria que transparecesse qualquer tristeza em meu olhar, mas não segurei o choro quando o ouvi balbuciar:
- "Minha filha, estou morrendo! Você tem que se acostumar com essa idéia."
Não! Jamais queria ouvir aquelas palavras. Desmoronei a chorar e ele também me abraçou com lágrimas nos olhos pedindo calma. Falei para que nunca mais dissesse aquilo; que iria fazer qualquer coisa para reverter àquela situação.
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Apesar do esforço isolado de pessoas queridas, nada de concreto foi feito pelo Governo do Estado que dispõe da Lei Canhoto da Paraíba que foi criada para proteger artistas paraibanos em situações semelhantes.


Dedico esse texto ao amigo e ator Luíz Carlos Vaconcelos, a única pessoa que de fato nos ajudou,

Ai Se Sesse

Se um dia nós se gosta-se
Se um dia nós se quere-se
Se nós dois se emparea-se
Se jutim nós dois vive-se
Se jutim nós dois mora-se
Se jutim nós dois drumi-se
Se jutim nós dois morre-se
Se pro céu nós assubi-se
Mas porém se acontece-se
de São Pedro não abri-se
A porta do céu e fosse te dizer qualquer tolice
E se eu me arrimina-se
E tu com eu insinti-se
Prá que eu me arresouve-se
E a minha faca puxa-se
E o bucho do céu fura-se
Távez que nós dois fica-se
Távez que nós dois cai-se
E o céu furado arria-se
E as virgem todas fugir-se


(Zé da Luz)

Vítimas do Acaso


É revoltante a falta de atenção dos nossos governantes, no que diz respeito ao sistema penitenciário do país. É gritante o descaso presenciado quase todos os dias, nos meios de comunicação.Vemos que não existem leis rígidas, não há um acompanhamento específico, espaço, valor, vivem todos em um depósito de humanos, jogados como lixo.É preciso que haja uma reformulação, que a sociedade civil também participe, reivindicando normas, melhores condições, oficinas...O mínimo de dignidade para esses cidadãos que de certa forma não tem culpa, vivem num sistema falido e apodrecido pelo tempo.