domingo, 30 de dezembro de 2007

Formato Mínimo


"Começou de súbito
A festa estava mesmo ótima
Ela procurava um príncipe
Ele procurava a próxima
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Ele reparou nos óculos
Ela reparou nas vírgulas
Ele ofereceu-lhe um ácido
E ela achou aquilo o máximo
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Os lábios se tocaram ásperos
Em beijos de tirar o fôlego
Tímidos, transaram trôpegos
E ávidos, gozaram rápido
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Ele procurava álibis
Ela flutuava lépida
Ele sucumbia ao pânico
E ela descansava lívida
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O medo redigiu-se ínfimo
E ele percebeu a dádiva
Declarou-se dela, o súdito
Desenhou-se a história trágica
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Ele, enfim, dormiu apático
Na noite segredosa e cálida
Ela despertou-se tímida
Feita do desejo, a vítima
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Fugiu dali tão rápido
Caminhando passos tétricos
Amor em sua mente épico
Transformado em jogo cínico
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Para ele, uma transa típica
O amor em seu formato mínimo
O corpo se expressando clínico
Da triste solidão, a rúbrica"
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Composição: Samuel Rosa - Rodrigo F. Leão
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quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Fest Aruanda

Vladimir Carvalho, grande documentarista homenageado no festival
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"Aruanda é o filme sobre a Paraíba que mais se tem conhecimento. O documentário cativou platéias de diversos lugares do Brasil e do mundo ao mostrar a realidade do sertão nordestino.
Linduarte Noronha documenta a vida de descendentes de escravos que haviam fundado um quilombo, em Olho d'Água da Serra do Talhado. Nele, vivem à margem de qualquer outra civilização e se sustentam através do comércio de cerâmica primitiva, que são vendidos na feira ao pé da serra.
Em 1960, em pleno surgimento do Cinema Novo, Aruanda mostrou ao resto do país a sua própria pobreza. Glauber Rocha, nome principal do movimento, declarou que o documentário lhe inspirou e "canonizou" o São Linduarte.

Aruanda é a melhor prova da validade, para o Brasil, das idéias que prega Glauber Rocha: um trabalho feito fora dos monumentais estúdios que resultam num cinema industrial e falso, nada de equipamento pesado, de rebatedores de luz, de refletores, um corpo a corpo com uma realidade que nada venha a deformar, uma câmera na mão e uma idéia na cabeça apenas. O que fazer? Aruanda o dizia.
Jean-Claude Bernardet

Noronha e Vieira entram na imagem viva, na montagem descontínua, no filme incompleto. Aruanda, assim inaugura também o documentário brasileiro nesta fase do renascimento que atravessamos apesar de todas as lutas, de todas as politicagens de produção. Pela primeira vez, sentimos valor intelectual nos cineastas que são homens vindos da cultura cinematográfica para o cinema, e não do rádio, teatro ou literatura. Ou senão vindos do povo mesmo, com a visão dos artistas primitivos, criadores anônimos longe da civilização metropolitana, como no caso dos dois paraibanos".
Glauber Rocha
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11 a 15 de dezembro de 2007
JOÃO PESSOA-PB, TROPICAL HOTEL TAMBAÚ
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sábado, 8 de dezembro de 2007


Grita menino engenhoso! Grita por tua dor, revolta, choro, angústia, aceitação, calma, quietude, sensibilidade...estarei sempre aqui te olhando, aplaudindo, sorrindo, amando...

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Beijo, meu menino de doces lembranças...

...que mora, bate, vive, pulsa em mim...


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sexta-feira, 7 de dezembro de 2007




"Muitos me chamaram de aventureiro e o sou, só que de um tipo diferente: dos que entregam a pele para provar suas verdades."
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"Acima de tudo procurem sentir no mais profundo de vocês qualquer injustiça cometida contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. É a mais bela qualidade de um revolucionário."
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Não nego a necessidade objetiva do estímulo material, mas sou contrário a utilizá-lo como alavanca impulsora fundamental. Porque então ela termina por impor sua própria força às relações entre os homens."

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Che Guevara

Recomendo:

O Cinema da Fundação Joaquim Nabuco-Pe inicia a EXPECTATIVA 2008 na terça-feira 11 de dezembro, mas neste sábado (8 dez), às 21h40, faz um pré lançamento do evento, exibindo
PARANOID PARK, o novo filme do diretor de “Elefante”, Gus Van Sant.


São 29 longas-metragens (sendo 26 inéditos), dois programas de curtas-metragens (sendo um com a nova safra pernambucana), duas sessões de gala, seguida de debate com os realizadores após a sessão, e uma sessão com degustação da cachaça São Saruê (fabricada em Igarassu) após projeção organizada pelo grupo carioca ‘Cachaça Cineclube’.


Cinéfolos de plantão, se liguem!
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Van Gogh


"Século XX
Van Gogh,
Teus quadros valem milhões.
Teus girassóis estão em toda parte.
Nos museus do mundo.
Na sétima arte.

Orgulho da Holanda.
Tua ruiva fisionomia, o triste olhar.A mensagem implícita na vida, nas telas, nas cartas.
A todos que perseguem a arte.NÃO DESISTA"!
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Por Bárbara Lia
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quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Liberdade





Encontro-me dispersa em um submundo de total exaustão e abandono, onde olho o infinito nesse labirinto que me consome e surpreende...

Sai daí agora, respira fundo, ergue a cabeça, vem pro meu mundo. Com força segura minha mão que te afaga e suporta...Vamos descobrir juntos esse caminho novo, redescobrir as cores, as formas.

Estou do seu lado...

...qualquer coisa, sempre estarei!

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Clarice Lispector

"Mas há a vida que é para ser intensamente vivida, há o amor.
Que tem que ser vivido até a última gota.
Sem nenhum medo. Não mata."
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Valsinha



Um dia, ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto, convidou-a pra rodar
E então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços com há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça, foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz
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Chico Buarque
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quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Luz



Desejo a todos, muitas felicidades nessa passagem para o ano de 2008, que tenhamos um ano repleto de energias
boas e motivos para sorrir...





Um beijo estrelado nos amigos que passaram por aqui...

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quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Amor de pai


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Tenho observado, ao longo de nosso relacionamento, a atenção dispensada a seus queridos filhos Rodolfinho, Rapha e Rudy, como os chama carinhosamente.

Confesso ficar encantada com a sua maneira grandiosa e incrível de lidar e cuidar deles. O empenho e dedicação no trato com os problemas tentando solucioná-los da melhor forma possível. O diálogo sempre muito aberto e franco, proporcionando assim uma conversa sadia, onde não existe censuras e freios, fazendo com que fiquem à vontade para expor as situações do cotidiano.

Cada um deles herdou características distintas suas, mas quando juntas formam um todo maravilhoso. Rodolfinho é seu lado mais família, preocupado com a educação e conduta das filhas Duda e Luka, orientando sempre para o caminho do bem, dos bons modos e costumes. Rafael seria seu lado mais compenetrado, introspectivo, inteligente e disciplinado, dedicando-se ao máximo nas coisas que se propõe a fazer. Rodrigo é seu lado aventureiro, de descobertas, buscas e realizações. Todos valorizam as grandes e verdadeiras amizades.

Gostaria de relatar um caso que me despertou atenção, principalmente pelo fato de como você o encarou e levou “numa boa", apesar da barra que deve ter sido para a família... Foi a gravidez precoce de Roberta, sua nora, que na época tinha 15 anos de idade, fase de descobertas e inquietações. Você soube do fato de uma forma inesperada, pois naquele momento não sabia nem que Rodolfinho namorava... O dia de confraternização, onde as famílias estavam reunidas e que na ocasião Rodolfinho iria pedir a mão de Betoca em casamento e que na hora “H” ficou envergonhado e com medo, chegou até em determinado momento a deitar a cabeça em seu ombro, como que procurando forças no pai para iniciar o pedido tão significativo e que mudaria por completo sua vida. Lembro quando, emocionado, você me contou esse fato. É lindo ver o sentimento entre eles dois, hoje com duas filhas Maria Eduarda e Maria Luíza... esse equilíbrio é fruto da base que o pai proporcionou à família.

Nos encontros aos domingos em sua casa, regados de bastante alegria, abraços, beijos e emoções... O carinho como você prepara a comidinha japonesa, o churrasco, bifum ao curry entre outras coisas, e ainda, de quebra, a sobremesa mais saborosa que é a sua torta alemã. É uma festa familiar encantadora! É gratificante ver o seu entusiasmo no preparo de todos os detalhes, a sua preocupação com a casa, em receber bem os meninos, suas netinhas e o mascote da turma Guilherme ou Guila.

Não poderia deixar de falar também no filho Ivanildo, fruto de um relacionamento momentâneo, adolescente e de descobertas, mas nem por isso menos importante, pois foi através deste que gerou amadurecimento, um novo olhar, novos horizontes. Sua ajuda ao filho veio em um momento necessário, onde conseguiu proporcionar toda assistência, apoio e dignidade. Pena que os descaminhos o levaram para outra direção, essa sem retorno...chego a me emocionar quando lembro da forma como você relatou, desde o primeiro contato com ele, a força e participação de sua irmã Nenêm, o seu esforço para que ele se tornasse um cidadão de bem...até a ida sem volta...

Por fim, a mais nova filhota Quetsia, essa veio de mala e cuia e ainda soltando todos os traques ao amanhecer- rsrsrs. Me lembro quando ela comentou comigo, na entrada do shopping, as vésperas do dia dos pais, onde viu uma placa falando a respeito e disse: "Mainha, tio Dodô é o meu segundo pai, né? Agente tem que comprar um presente pra ele". Aquela atitude me tocou muito, porque foi uma conquista sua ao coraçãozinho dela. Desde o primeiro Pai, nunca mais se ouviu falar em tio... Esse amor é algo que me comove e mexe profundamente com os meus sentimentos de filha...essa foi uma forma que encontrei de demonstrar e expressar o quanto você é um cara que merece todo o reconhecimento, aplauso e estima. Parabéns por ser um pai tão presente e intenso.
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quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Amor para a vida inteira


Cheguei!!! Nossa! Depois de passado quase um ano do início do nosso relacionamento, pude enfim ficar um pouco mais próximo de você, de sentir realmente seu coração um pouco mais perto.
Lembro-me como se fosse hoje, da primeira ligação: o meu “olá” tímido, as conversas ao telefone sempre à noite, a sua voz vibrante na notícia da nomeação do banco, as mensagens no celular... Houve um dia que contei trinta e uma. Putz!... As conversas sempre tão francas e abertas, onde relatávamos nossa vida, gostos, afinidades, atitudes diante das situações, os descaminhos, a coragem... Aqueles contatos iniciais foram marcantes e cheios de carinho, admiração e atenção... O nosso respeito recíproco pela vida um do outro.
A viagem até Abreu e Lima - terra até então desconhecida - foi tensa “pacas”. Recordo que na noite anterior não tinha dormido absolutamente nada de tanta ansiedade e já tinha deixado a mochila arrumada quatro dias antes da viagem. Escolhi as roupas indianas mais bonitinhas que tinha, as saias, sandálias de couro e algumas poucas blusas.
Pois bem, no ônibus, aquele tumulto típico de carnaval, onde as pessoas entusiasmadas faziam o maior auê no caminho: batuques, canções e, junto àquela festa, meu coração embalado, parecia explodir.“Ainda falta muito tempo? Tem certeza que esse ônibus tem parada obrigatória em Abreu e Lima?” Perguntava à moça ao lado. “Quando estiver próximo, por favor não deixe de me avisar.”
Olhava atentamente a paisagem pela janela e pensava a todo instante: “será que Rodolfo me encontrará? O que irá pensar quando me vir?” O ônibus pára, e o motorista grita logo em seguida: - “Parada de Abreu e Lima!”Levantei trêmula, tensa pra caramba. Coloquei desajeitada a mochila nas costas e desci vagarosamente os degraus, olhando desconfiada e atenta para todos os lados. Quando menos espero, vi o sorriso aberto que me conquistou. Estava bem ali, um pouco mais à frente, me chamando para o tão esperado abraço e, logo em seguida, o longo e ofegante beijo, em meio àquele calor maravilhoso, naquela troca de energia e suores, sob os aplausos e olhares dos foliões que passavam.
Inesquecível, meu amor! Depois você gentilmente pegou minha bolsa e a colocou em seu carro. Fiquei tão nervosa naquele momento que as minhas pernas trêmulas não queriam obedecer.
No percurso até Olinda, enquanto você nos conduzia com seu jeito alegre e espontâneo, ia me deixando mais calma, embora a timidez, às vezes, quisesse falar mais alto...
Meu anjo, amor, neguinho... Cresço todos os dias junto a você; venço os meus medos e desafios ao seu lado; você preenche todos os espaços, segura a minha mão e me faz acreditar que pode ser possível. Nossas semelhanças na simplicidade, no gosto pelas várias manifestações de arte: cinema, literatura, teatro, orquestra sinfônica, música e cultura popular, nos unem ainda mais...Você me ajuda muito na criação da pequena Quetsia... Neste mês que estivemos aqui, só aumentou a certeza de que te quero sempre, te desejo, te amo! “Sempre é muito tempo, eu sei, mas quero assim mesmo...”
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quarta-feira, 11 de julho de 2007

Quintas com orquestra


Lembro-me, quando ainda muito pequena, o dia em que fui assistir pela primeira vez a apresentação da orquestra sinfônica da Paraíba no Espaço Cultural de João Pessoa, acompanhada por meus pais. Naquele dia coloquei o meu vestido mais bonito: era branco, com lacinhos coloridos no ombro, e usava sapatinhos pretos, tipo boneca. Tinha na época sete anos, a idade que hoje tem minha filha Quetsia. Minha ansiedade era imensa. Ouvia os comentários dos meus pais sobre o concerto, tais como: o horário, o melhor lugar para sentarmos, os ingressos. Chegamos ao local e já havia algumas pessoas, todas muito alinhadas e elegantes. Achei estranho por não haver nenhuma criança, talvez o motivo fosse o horário, nove horas da noite era um pouco tarde. Fui ao banheiro com minha mãe para os últimos retoques no cabelo e vestido. Entramos no Teatro Paulo Pontes e o primeiro impacto foi emocionante...Uau, que lindo! A iluminação, as cadeiras, o palco, as cores, os instrumentos. Nossa! Como aquilo tudo era bonito... Comentei com meu pai, que por sua vez disse: "Eu também acho minha filha, é por isso que a trouxemos aqui hoje. Você não tem vontade de estudar piano?” Respondi que não, pois achava mais bonito aquele instrumento que era colocado no "pescoço". Falei apontando para o músico que na hora afinava a orquestra. Papa explicou-me, sorrindo pela forma como tinha falado, que o instrumento chamava-se violino e que tinha um som belíssimo. A orquestra enfim começou a tocar. Hoje percebo como era engraçada a minha reação, que oscilava de acordo com a intensidade da música: quando acelerava, ficava atenta e compenetrada; quando acalmava ficava serena e tranqüila. Foi uma experiência única em minha vida. Foi a partir daí que aos poucos meu interesse pelas variadas formas de arte foi aflorando.

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É interessante a importância desses acontecimentos na vida da criança. A atitude e a preocupação dos pais é de uma grandiosidade inexplicável. Ao final da apresentação, meu pai, com sua calma tão peculiar, me chamou baixinho tocando suavemente no meu ombro: "Minha filha, acabou". Olhei assustada para os lados dizendo: Já?. Não conseguira ficar acordada até o final e acabei adormecendo...
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sexta-feira, 1 de junho de 2007

O Último Discurso


"Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar - se possível - judeus, o gentio ... negros ... brancos.


Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo - não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar ou desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover todas as nossas necessidades.


O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma do homem ... levantou no mundo as muralhas do ódio ... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, emperdenidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas duas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.


A aviação e o rádio aproximaram-se muito mais. A próxima natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem ... um apelo à fraternidade universal ... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhões de pessoas pelo mundo afora ... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas ... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: "Não desespereis!" A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia ... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem os homens, a liberdade nunca perecerá.


Soldados! Não vos entregueis a esses brutais ... que vos desprezam ... que vos escravizam ... que arregimentam as vossas vidas ... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como um gado humano e que vos utilizam como carne para canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar ... os que não se fazem amar e os inumanos.


Soldados! Não batalheis pela escravidão! lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas é escrito que o Reino de Deus está dentro do homem - não de um só homem ou um grupo de homens, mas dos homens todos! Estás em vós! Vós, o povo, tendes o poder - o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela ... de fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto - em nome da democracia - usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo ... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.


É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progreso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos.


Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontres, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo - um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergues os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos"!


Charles Chaplin
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quinta-feira, 31 de maio de 2007

Desabafo


Meu Pai, Sávio Rolim...



Ao longo deste ano, na verdade, desde o lançamento do documentário "O Menino e Bagaceira" em outubro de 2004- até esta data ( 21 de novembro de 2005), nada de concreto foi feito no sentido da recuperação do meu pai, o ator Sávio Rolim.
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Apenas um tratamento ridículo na Colônia Penal Juliano Moreira, no qual o acompanhava e onde ficávamos horas a fio à espera dos médicos, numa angústia e aflição que me consumia cada vez mais...
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Em meio àquela tortura, vivendo situações às quais não estava adaptada, passava mal na maioria das vezes, e saía correndo para o trabalho, sem sequer almoçar.
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Quando colocava a cabeça no travesseiro ficada a me questionar do porque daquilo tudo. Não sabia o que sentir... Raiva, revolta, tristeza, angústia...
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Por várias ocasiões me desesperei tentando achar uma saída. Quantas e quantas vezes fui visitá-lo, e passávamos horas a conversar na escadaria do local onde mora.
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Numa dessas não agüentei. Não queria que transparecesse qualquer tristeza em meu olhar, mas não segurei o choro quando o ouvi balbuciar:
- "Minha filha, estou morrendo! Você tem que se acostumar com essa idéia."
Não! Jamais queria ouvir aquelas palavras. Desmoronei a chorar e ele também me abraçou com lágrimas nos olhos pedindo calma. Falei para que nunca mais dissesse aquilo; que iria fazer qualquer coisa para reverter àquela situação.
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Apesar do esforço isolado de pessoas queridas, nada de concreto foi feito pelo Governo do Estado que dispõe da Lei Canhoto da Paraíba que foi criada para proteger artistas paraibanos em situações semelhantes.


Dedico esse texto ao amigo e ator Luíz Carlos Vaconcelos, a única pessoa que de fato nos ajudou,

Ai Se Sesse

Se um dia nós se gosta-se
Se um dia nós se quere-se
Se nós dois se emparea-se
Se jutim nós dois vive-se
Se jutim nós dois mora-se
Se jutim nós dois drumi-se
Se jutim nós dois morre-se
Se pro céu nós assubi-se
Mas porém se acontece-se
de São Pedro não abri-se
A porta do céu e fosse te dizer qualquer tolice
E se eu me arrimina-se
E tu com eu insinti-se
Prá que eu me arresouve-se
E a minha faca puxa-se
E o bucho do céu fura-se
Távez que nós dois fica-se
Távez que nós dois cai-se
E o céu furado arria-se
E as virgem todas fugir-se


(Zé da Luz)

Vítimas do Acaso


É revoltante a falta de atenção dos nossos governantes, no que diz respeito ao sistema penitenciário do país. É gritante o descaso presenciado quase todos os dias, nos meios de comunicação.Vemos que não existem leis rígidas, não há um acompanhamento específico, espaço, valor, vivem todos em um depósito de humanos, jogados como lixo.É preciso que haja uma reformulação, que a sociedade civil também participe, reivindicando normas, melhores condições, oficinas...O mínimo de dignidade para esses cidadãos que de certa forma não tem culpa, vivem num sistema falido e apodrecido pelo tempo.








quarta-feira, 9 de maio de 2007

Falando das Flores

Fardo...

Há alguns dias atrás, estava lendo sobre os muitos assuntos ligados à psicologia em geral, bem como sobre a psicologia nazista de Hitler, o que me chamou a atenção pela brutalidade do tratamento dos distúrbios atribuídos à mente humana e seus devaneios. Por um instante lembrei do meu pai e do tratamento no Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira, no qual o acompanhava nas consultas com uma psicanalista que o levava também para oficinas junto a pessoas com problemas mentais. Essas idas ao hospital, cerca de três vezes durante a semana, costumavam durar toda a manhã. Foi uma experiência muito forte, rica e intensa em minha vida. Observar o vai e vem daquelas vidas, perdidas, sem rumo nem expectativa, mexia muito comigo. Além disso, saber que aquela doença jamais teria cura, apenas um tratamento para amenizar a ansiedade e agressividade, com medicamentos que lhes dopavam e que lhes deixavam, na maioria das vezes, uns zumbis anestesiados.

Presenciei as diversas situações. Uma que me marcou muito, foi no dia em que acompanhei “papa” ao ambulatório para tratar de uma ferida no braço, devido a uma queda na escadaria da casa onde mora no centro da cidade. Quando chegamos ao local, a enfermeira cuidadosamente tratava o ferimento, fazendo assepsia, colocando remédios e curativos. A enfermaria ficava próxima à ala dos pacientes mais nervosos, e era fechada por grades, prevenindo assim, da entrada dos pacientes que, aos poucos, foram se aproximando, falando alto, fazendo perguntas, pedindo dinheiro e chamando pela mãe. Muitos ficavam acariciando o sexo, outros chegavam a baixar as calças e me chamar, fazendo insinuações. A enfermeira de plantão, com sua experiência adquirida ao longo dos anos, conversava com eles e comentava baixinho que não ficássemos assustados, pois, aquilo era normal. Fiquei tão atordoada com aquela situação que, a minha reação logo depois que deixei meu pai em sua casa, foi chorar compulsivamente. Sentei em um banquinho da praça mais próxima e fiquei a me questionar o "porquê" daquilo tudo.

Eu, que jamais pensara passar por isso na vida, me vi extremamente fragilizada por esses acontecimentos, mas, tinha que demonstrar força a meu pai que só tem a mim. É uma responsabilidade que aos poucos fui administrando. É o amadurecer antes do previsto. Sinto-me mais forte agora e também feliz, por saber que tenho forças para enfrentar todo e qualquer obstáculo. Esta vida é um aprendizado constante...

Sem mais delongas, pois não foi minha intenção me estender tanto... queria mesmo era falar sobre Freud e a mente humana, assunto que tem me interessado desde então. Quero aprender um pouco mais sobre meu pai e desfrutar do fascínio que sinto pela psicologia.