segunda-feira, 27 de junho de 2011

MeU pÉ dE lArAnJa LiMa














Bom, confesso que ao iniciar o filme resisti em assisti-lo. O áudio não estava legal, e as imagens um tanto distorcidas me atrapalharam um pouco. Mas, ao ver a interpretação do garotinho Zezé e suas artimanhas, logo estacionei no tempo e chamei por minha filha Quetsia, para acompanhar-me na comovente história. O narrador é o menino Zezé, uma criança de cinco anos, membro de uma família pobre, que vive sérias dificuldades. O pai estava desempregado, a mãe se enfurnava todo o dia em uma fábrica para ganhar o pouco que sustentava a família. E os irmãos mais velhos assumiam a função de cuidar dos mais novos. Zezé sofre um sofrimento infantil. E por isso dói tanto. Ele é um menino esperto, inteligente, que cuida com muito zelo do caçula Luis, mas é nitidamente carente de atenção, de ternura, de amor. A maioria dos adultos não o compreendem. Menino astuto, cheio de truques, adora dar sustos nos mais desavisados, aprontar variadas arteirices. Danado mesmo. E tudo o que acontece na vizinhança é sempre imputado a ele – e normalmente é de fato culpa dele.
Mas Zezé é uma criança. E não há como querer exigir de uma criança a maturidade de um adulto. Não há como. O filme é um tapa na cara sutil, uma sacudida no nosso acomodado modo de enxergar o mundo. A linguagem é simples e impressionantemente profunda. Vasconcelos consegue recriar um desabafo infantil com um vocabulário preciso e cuidadosa atenção aos detalhes. E nos faz perceber que as pequenas coisas são o que realmente importa. São elas que constroem sólidas relações, que nos passam as mensagens mais relevantes. Andamos tão entretidos com os grandes acontecimentos que muitas vezes deixamos passar despercebidas as minúcias. Como a amizade entre Zezé e o pé de laranja lima de sua casa nova. É com ele que o menino desabafa, conta os mais profundos segredos. Uma linda relação de “amizade”. Naquela “troca” de confidências, é fascinante perceber a esperança e os sonhos por trás da dor e do sofrimento.