sexta-feira, 30 de julho de 2010

"Corumbiara", o documentário que denuncia o massacre dos nosso índios






Corumbiara, o filme Ganhador do 37º Festival de Gramado.

O massacre de Corumbiara mostra que o conflito na fazenda Santa Elina tem as mesmas características de milhares de conflitos por terra que aconteceram e acontecem no Brasil, e que o massacre de Corumbiara tem a mesma gênese de tantos outros massacres acontecidos contra camponeses, posseiros e índios ao longo de quinhentos anos de luta pelo acesso e posse à terra, evidenciando que o país ainda não resolveu sua questão agrária.

No dia 14 de julho de 1995, centenas de famílias ocuparam uma pequena parte da fazenda Santa Elina no município de Corumbiara (Rondônia), e na madrugada do dia 9 de agosto aconteceu o massacre de Corumbiara. Os camponeses que viveram vinte e cinco dias de esperança da terra prometida, de repente, abismaram-se num inferno dantesco, onde homens foram executados sumariamente, mulheres foram usadas como escudos humanos por policiais e por jagunços; pessoas foram torturados por longas horas e o acampamento foi destruído e incendiado.

Na apuração dos fatos, nos processos judiciais e no júri, ficou evidenciado que os camponeses é que pagaram muito caro por terem sonhado com o acesso à terra e por terem ido à luta para concretizar aquele sonho, que, afinal, é o sonho de milhares de sem terra. Ninguém foi responsabilizado pelas torturas que aquelas pessoas sofreram, os órfãos e as viúvas estão desamparadas, existe gente desaparecida até hoje e muitos trabalhadores estão debilitados física e emocionalmente, por sequelas causadas pelos maus tratos recebidos durante a desocupação da fazenda Santa Elina.

“Corumbiara” é um esforço emocionante do documentarista Vincent Carelli para provar o extermínio de índios no sul de Rondônia e tentar contato com os remanescentes de tribos isoladas. Após 20 anos dedicados a essa luta, que teve início em 1986, Carelli contenta-se em apenas contar a história dos índios, já que esbarra na dificuldade de transpor obstáculos recorrentes para fazer justiça.

“As evidências são claras, mas a lei do silêncio impera na região”, disse o diretor, que tem como guia no filme o indigenista da Funai Marcelo dos Santos. O primeiro contato com índios isolados acontece em 1985. A equipe comandada por Marcelo consegue avistar dois membros da tribo Kanoê e faz uma aproximação cuidadosa. Demora até que eles percebam a boa vontade dos brancos.

“A impossibilidade de comunicar nos colocava de novo dentro de um mistério. Quem são eles?”, pergunta-se Carelli, como narrador do próprio filme. Aos poucos, a equipe entende que houve um massacre na região, cometido por capangas de fazendeiros, e ela está diante dos últimos sobreviventes. O contato estende-se a outra tribo, os Akunsu, cujas roças ficam nas margens do rio Omerê.

Tudo é conduzido com muita cautela por Carelli, que é recebido com desconfiança tanto pelos índios como pelos fazendeiros. Numa das cenas mais tensas do documentário, a equipe do filme tenta chegar perto do único sobrevivente de outro grupo dizimado por pistoleiros -chamado de “índios do buraco” devido ao hábito de cavar fossas profundas em seus barracos.

A sondagem dura seis horas. Já se sabia que o restante da tribo fora atacado e seus acampamentos destruídos. Carelli tinha conseguido a informação numa entrevista com câmera oculta. À medida que a equipe avança, o índio ameaça, apontando uma flecha que atravessa a maloca.

A intenção de registrar a imagem do índio sobrevivente, que serve como prova de sua existência, gera efeito contrário. Ele se sente acuado e revida. Como não há a possibilidade de comunicação, a negociação arrasta-se sem êxito.

Por fim, seu rosto é captado pela câmera numa imagem granulada. “A ironia é que a câmera que o ameaçava será a mesma que vai fazê-lo existir perante a justiça”, ressalta Carelli. O material foi usado para forçar uma interdição da área e garantir a proteção do índio. Após alguns dias, o documentarista teve a notícia de que o índio havia abandonado o barraco e desaparecido de novo.

Mais do que levantar evidências e usá-las no tribunal, Carelli oferece um retrato comovente dos hábitos e costumes desses índios que vivem afastados da civilização como a conhecemos. No ritual que mistura dança e gritos, Txinamanty se solta diante da câmera numa celebração que é acompanhada por Kunibu, o cacique da tribo. Em outros momentos, vemos os índios purificando o corpo dos brancos, numa coreografia de sopros, e a troca de afeto proibido entre amantes de tribos rivais.

“É um balanço da minha carreira. É uma história que eu segui durante 20 anos”, resume o antropólogo Carelli, que começou a experiência do “vídeo nas aldeias” com jovens índios do norte de Mato Grosso, em 1986.

Fonte: Pec.Utopia


Mais algumas palavras...

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Gostaria de ter publicado sobre o documentário Corumbiara, desde o dia em que o assisti na Mostra Internacional de Cinema, que aconteceu na Fundação Joaquim Nabuco, no Recife ano passado (2009). Trata-se de um filme extremamente comovente e desafiador para os idealizadores, por se encontrarem uma série de dificuldades para a conclusão do mesmo. Devo confessar que foi um dos filmes mais bonitos, senão o MAIS bonito que já assisti em toda a minha vida, e olha que não foram poucos. Saí do cinema com um ar aparente de tristeza, incapacidade, revolta, inquietude...impressionante! É incabível engolir, aceitar e digerir tanta maldade com os nossos índios.



terça-feira, 27 de julho de 2010

No Meio do Mundo







NO MEIO DO MUNDO
Sinopse

Brasil. Nordeste. Estado de Pernambuco. Um imenso posto de gasolina no meio de uma terra seca, cortada por uma estrada sem fim. Cocada têm 14 anos e um sonho, vir a ser caminhoneiro. À noite, ele dorme na cabine de um velho caminhão e durante o dia faz bicos e ajuda no posto. O pai dele foi assassinado, então ele encontrou um pai adotivo, Mineiro, um caminhoneiro que se preocupa em conversar com ele e em apoiá-lo quando a tentação do dinheiro fácil torna-se mais forte que tudo.

Enquanto isso, Nego de 13 anos vive numa favela cercado de uma família de numerosos filhos. Ele cuida das cabras, mas além de trabalhar, sua mãe quer que ele vá à escola para ter uma boa educação. Mas Nego quer partir, ganhar dinheiro. À noite, ele ronda o posto de gasolina, fascinado pelas vitrines iluminadas, pelos comerciantes que vendem de tudo e pela comida abundante.

Com seu amigo Cocada, ele olha o movimento intenso dos caminhões e dos viajantes de passagem. Tudo fala a eles deste grande país do qual eles não sabem nada. Com esta maturidade singular que se adquire muito cedo na adversidade, eles se interrogam sobre suas identidades e sobre o futuro. A única perspectiva : uma estrada na direção de São Paulo ou em alguma outra direção.
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Sobre o filme
OS PERSONAGENS

Nego: “Tu sabes quem tu sois Cocada ?
Cocada: “Sei”.
Nego: “Tu é o quê?”
Cocada: “Cocada! O que sou. Eu sou o que eu sou.
Agora eu num sei porque eu minto muito.
Nego : “O cabra sai e depois o cabra descobre porque é.”

Nego e Cocada têm o coração dolorido por todos os sofrimentos já vividos, mas têm vontade de partir, de lutar.
Eles se questionam sobre coisas essenciais. Esta intimidade é o centro do filme.
Para construir nossa narração, nós focamos mais precisamente o quotidiano deles, a forma como eles vêm o mundo, os encontros que eles fazem com os adultos. Assim, caminhamos com eles na imaginação de um futuro que lhes ajude a suportar a dureza de todos os dias.

UMA HISTORIA COLETIVA

Em torno dos dois meninos, existem os adultos que eles escolheram.
- Os caminhoneiros são os “aristocratas do povo” e Mineiro é admirado como tal. Quando criança ele conheceu a fome. Ele sobreviveu, mas não esqueceu suas origens e tenta ajudar os meninos à deriva. Cocada é como seu filho adotivo.
Mineiro: “Você não deve deixar o medo impedir seu sonho.
Você tem que ser o que você é.”
Cocada: “Se às vezes eu fico chato e triste, é porque eu penso na minha vida”.
- Inácia é a mãe de Nego. Ela teve dez filhos e nove maridos. Maridos violentos, a maioria alcoólatras, ou que desapareceram. “Ser pai não é só botar no mundo não”, disse ela um dia a seus filhos, “vocês cresceram sem o amor deles”. Nesta casa existe a força da mãe, inflexível, para armar seus filhos contra a vida brutal que eles têm pela frente.
- Zé sempre quis ser agricultor e criar animais, sua paixão, mas, ele nunca conseguiu possuir um pedaço de terra pra alimentar sua família. Então ele fabrica tijolos manualmente. Para Zé é melhor se endividar para comprar uma vaca, mesmo magrela, em troca de milhares de tijolos, do que esperar algum sinal do céu. Ele apóia o sonho de Cocada de ser caminhoneiro.

A ORIGEM

Um dia, neste grande posto de gasolina onde tudo está exposto à vista dos que não possuem nada, nós conversamos com um adolescente esfarrapado e faminto.
Ele nos disse : « Não tenho nada, só tenho minha vida ».
Essas palavras passaram a soar forte dentro de nós. Qual é a história, quais são os projetos dos que não têm nada além da vida ? Onde está a força, o que é que lhes permite resistir ?
Decidimos então acompanhar esses meninos, seus esforços, seus desânimos, medos, e desejos. E ficamos 6 meses neste posto de gasolina e seus entornos, um território concentrado de 5 km².

O ENFOQUE

Este filme não é um retrato miserabilista ou angelical da pobreza e da violência no Brasil. Ele nos conta uma história universal, a história de dois meninos que tentam encontrar seu lugar no mundo dos adultos. Eles sabem que lá onde eles nasceram não existe futuro possível.
Esta procura de identidade tem como cenário o Nordeste do Brasil, mas ele poderia se situar em qualquer lugar, em qualquer outro pais.
O que é mais surpreendente e tocante no Nego e no Cocada é a energia que eles empregam para escapar do destino anunciado. Eles querem saber quem eles são e fazer alguma coisa da vida deles.
A linguagem deles contém o que os aproxima. No filme, esta linguagem é confrontada com o discurso dos políticos, com o discurso de Lula, natural do Pernambuco, em campanha eleitoral para reeleição de presidente.
Na situação de segregação econômica que o Brasil vivencia, eles se tornaram os invisíveis aos quais se nega o valor de suas próprias histórias.

O FILME

Nós dois estamos lá à espreita, nunca fazemos entrevistas. Nossa câmera gostaria de nunca provar nada, nunca parar de ressentir vasculhando os rostos, penetrando nos olhos, como num western de Sergio Leone.
A prova da confiança está nesta intimidade em que eles se abandonam, às vezes.
Os lugares são habitados e compartilhados por homens e animais, no seio de um mesmo universo onde cada um existe como pode.
A trilha sonora também tem um importante papel a desempenhar : gritos de ira, apelos modulados de pastores, ruídos de galopes de cavalo, som da água, buzinas dos caminhões, a respiração barulhenta e irregular de uma vaca doente, são muitas as sensações para que caibam todas no limitado enquadramento da câmera.

Jean-Pierre Duret e Andrea Santana
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Ficha técnica
Um filme de
Jean-Pierre Duret et Andrea Santana

Produtor Executivo
Muriel Meynard

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segunda-feira, 26 de julho de 2010

RECOMENDADÍSSIMO





Mary & Max - uma amizade diferente


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Unidos pela solidão e exclusão, Mary e Max cultivam uma amizade por mais de vinte anos sem nunca ter se visto. Ela, uma menina de oito anos que vive no subúrbio de Melbourne, na Austrália, e ele, um obeso e obsessivo homem de 44 anos que vive em Nova York.

Direção: Adam Elliot
Elenco: Philip Seymour Hoffman, Eric Bana, Toni Collette, Barry Humphries (vozes)
Classificação: Livre
Duração: 90 minutos
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