terça-feira, 20 de setembro de 2011

3 Irmãos de Sangue

Ao pesquisar sobre o belíssimo documentário "3 irmaõs de Sangue", encontrei nas palavras de Atila Roque toda a beleza que foi passada com o filme.

"Acabo de voltar do cinema com minha filha. Fomos assistir Os Três Irmãos de Sangue, um documentário emocionante sobre a vida dos Souza – Betinho, Henfil e Chico Mário. É tremendamente tocante por várias razões. Suas histórias já são de um pulsar intenso, cada qual a seu jeitinho, conquistando seu espaço naquilo que tinham vocação para fazer, sem se limitar ao campo dessas vocações. Betinho queria ser músico, mas depois de ver Chico tocando tão lindamente, realizou seu desejo no irmão; acabou por tornar-se um sociólogo brilhante, de quem jamais esqueceremos por ter-nos feito lembrar ou acordar em nós o sentimento mais nobre do ser humano (como diz Chico no filme), que é a solidariedade. Além de despertar outros muitos sentimentos, como indignação, consciência social e política, amor ao próximo, fosse esse quem fosse. Chico foi um músico extraordinário, sofisticado em sua simplicidade mineira de tocar. Suas letras (conheço pouco sua obra, coisa que tratarei de mudar logo logo) são de uma honestidade cativante e, por vezes, dolorida, como na música Terra, do disco homônimo, em que trata da tortura de forma pungente, direta, “sem metáforas”, como ressalta Joyce no documentário. Além do talento, foi um precursor da produção de discos independentes quando, provavelmente, ainda nem eram chamados assim. Henfil dispensa apresentações. Cartunista genial, escritor irreverente – como irreverente era tudo o que fazia –, figura carismática, insolente, inquieta. Seus personagens nos cartuns são de uma sagacidade, ironia, sarcasmo, sensibilidade e sei-lá-mais-quê. A Graúna – essa aí de cima – expressa, em seus poucos traços do rosto, o que quiser, raiva, compaixão, tristeza, alegria. Lembro também de assistir na adolescência um quadro dele, TV Homem, no programa TV Mulher. Era engraçadíssimo, mas era mais que isso; era interessante a forma como ele abordava os assuntos, cara a cara com a câmera, com um olhar tão sincero. E dizia: eita vida besta, sô! Bacana demais o Henfil. Além de tudo isso, o filme nos faz lembrar momentos memoráveis de nossa história, com cenas da ditadura, da volta dos exilados, das campanhas Diretas já! e Reage Rio. Isso sem falar nos depoimentos fantásticos de pessoas que conviveram com eles, entre família, amigos/as, profissionais da medicina – todos acabavam tornando-se amigos/as – e músicos, muitos músicos. Saí do cinema com a estranha sensação de orfandade, pensando em quanto de criatividade, suavidade, obstinação e talento a gente perdeu na despedida de vida desses três. Mas eles nos fazem também reavaliar os significados das palavras tempo, vida, esperança, solidariedade, dedicação, luta e muitas outras. Lindas figuras, belo filme." 



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