terça-feira, 27 de julho de 2010

No Meio do Mundo







NO MEIO DO MUNDO
Sinopse

Brasil. Nordeste. Estado de Pernambuco. Um imenso posto de gasolina no meio de uma terra seca, cortada por uma estrada sem fim. Cocada têm 14 anos e um sonho, vir a ser caminhoneiro. À noite, ele dorme na cabine de um velho caminhão e durante o dia faz bicos e ajuda no posto. O pai dele foi assassinado, então ele encontrou um pai adotivo, Mineiro, um caminhoneiro que se preocupa em conversar com ele e em apoiá-lo quando a tentação do dinheiro fácil torna-se mais forte que tudo.

Enquanto isso, Nego de 13 anos vive numa favela cercado de uma família de numerosos filhos. Ele cuida das cabras, mas além de trabalhar, sua mãe quer que ele vá à escola para ter uma boa educação. Mas Nego quer partir, ganhar dinheiro. À noite, ele ronda o posto de gasolina, fascinado pelas vitrines iluminadas, pelos comerciantes que vendem de tudo e pela comida abundante.

Com seu amigo Cocada, ele olha o movimento intenso dos caminhões e dos viajantes de passagem. Tudo fala a eles deste grande país do qual eles não sabem nada. Com esta maturidade singular que se adquire muito cedo na adversidade, eles se interrogam sobre suas identidades e sobre o futuro. A única perspectiva : uma estrada na direção de São Paulo ou em alguma outra direção.
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Sobre o filme
OS PERSONAGENS

Nego: “Tu sabes quem tu sois Cocada ?
Cocada: “Sei”.
Nego: “Tu é o quê?”
Cocada: “Cocada! O que sou. Eu sou o que eu sou.
Agora eu num sei porque eu minto muito.
Nego : “O cabra sai e depois o cabra descobre porque é.”

Nego e Cocada têm o coração dolorido por todos os sofrimentos já vividos, mas têm vontade de partir, de lutar.
Eles se questionam sobre coisas essenciais. Esta intimidade é o centro do filme.
Para construir nossa narração, nós focamos mais precisamente o quotidiano deles, a forma como eles vêm o mundo, os encontros que eles fazem com os adultos. Assim, caminhamos com eles na imaginação de um futuro que lhes ajude a suportar a dureza de todos os dias.

UMA HISTORIA COLETIVA

Em torno dos dois meninos, existem os adultos que eles escolheram.
- Os caminhoneiros são os “aristocratas do povo” e Mineiro é admirado como tal. Quando criança ele conheceu a fome. Ele sobreviveu, mas não esqueceu suas origens e tenta ajudar os meninos à deriva. Cocada é como seu filho adotivo.
Mineiro: “Você não deve deixar o medo impedir seu sonho.
Você tem que ser o que você é.”
Cocada: “Se às vezes eu fico chato e triste, é porque eu penso na minha vida”.
- Inácia é a mãe de Nego. Ela teve dez filhos e nove maridos. Maridos violentos, a maioria alcoólatras, ou que desapareceram. “Ser pai não é só botar no mundo não”, disse ela um dia a seus filhos, “vocês cresceram sem o amor deles”. Nesta casa existe a força da mãe, inflexível, para armar seus filhos contra a vida brutal que eles têm pela frente.
- Zé sempre quis ser agricultor e criar animais, sua paixão, mas, ele nunca conseguiu possuir um pedaço de terra pra alimentar sua família. Então ele fabrica tijolos manualmente. Para Zé é melhor se endividar para comprar uma vaca, mesmo magrela, em troca de milhares de tijolos, do que esperar algum sinal do céu. Ele apóia o sonho de Cocada de ser caminhoneiro.

A ORIGEM

Um dia, neste grande posto de gasolina onde tudo está exposto à vista dos que não possuem nada, nós conversamos com um adolescente esfarrapado e faminto.
Ele nos disse : « Não tenho nada, só tenho minha vida ».
Essas palavras passaram a soar forte dentro de nós. Qual é a história, quais são os projetos dos que não têm nada além da vida ? Onde está a força, o que é que lhes permite resistir ?
Decidimos então acompanhar esses meninos, seus esforços, seus desânimos, medos, e desejos. E ficamos 6 meses neste posto de gasolina e seus entornos, um território concentrado de 5 km².

O ENFOQUE

Este filme não é um retrato miserabilista ou angelical da pobreza e da violência no Brasil. Ele nos conta uma história universal, a história de dois meninos que tentam encontrar seu lugar no mundo dos adultos. Eles sabem que lá onde eles nasceram não existe futuro possível.
Esta procura de identidade tem como cenário o Nordeste do Brasil, mas ele poderia se situar em qualquer lugar, em qualquer outro pais.
O que é mais surpreendente e tocante no Nego e no Cocada é a energia que eles empregam para escapar do destino anunciado. Eles querem saber quem eles são e fazer alguma coisa da vida deles.
A linguagem deles contém o que os aproxima. No filme, esta linguagem é confrontada com o discurso dos políticos, com o discurso de Lula, natural do Pernambuco, em campanha eleitoral para reeleição de presidente.
Na situação de segregação econômica que o Brasil vivencia, eles se tornaram os invisíveis aos quais se nega o valor de suas próprias histórias.

O FILME

Nós dois estamos lá à espreita, nunca fazemos entrevistas. Nossa câmera gostaria de nunca provar nada, nunca parar de ressentir vasculhando os rostos, penetrando nos olhos, como num western de Sergio Leone.
A prova da confiança está nesta intimidade em que eles se abandonam, às vezes.
Os lugares são habitados e compartilhados por homens e animais, no seio de um mesmo universo onde cada um existe como pode.
A trilha sonora também tem um importante papel a desempenhar : gritos de ira, apelos modulados de pastores, ruídos de galopes de cavalo, som da água, buzinas dos caminhões, a respiração barulhenta e irregular de uma vaca doente, são muitas as sensações para que caibam todas no limitado enquadramento da câmera.

Jean-Pierre Duret e Andrea Santana
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Ficha técnica
Um filme de
Jean-Pierre Duret et Andrea Santana

Produtor Executivo
Muriel Meynard

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2 comentários:

Bastidores disse...

Mais um convite encantador seu. Adorei o filme e lembrei muito do ano que morei em São Caetano (onde acontece o filme). A realidade sem rodeios, sem ensaios, sem interferências.

Nadja Rolim disse...

Sempre ao lado teu, sempre !